terça-feira, 22 de março de 2011

ENTREVISTA COM O AUTOR DE "COMER ANIMAIS"


CULTURA / ENTREVISTA - 03/03/2011

Livro "Comer Animais", de Jonathan Safran Foer, reacende a polêmica em torno do vegetarianismo. Confira a entrevista


Livro do escritor americano traz dados sobre a indústria da carne e questiona o consumo massivo do alimento

Por Letícia González

A pergunta é clássica: você comeria isso se soubesse como foi preparado? Pense um pouco na questão e estará diante do novo livro do escritor americano Jonathan Safran Foer, 33 anos e no seu terceiro best-seller. “Comer Animais”, lançado em fevereiro nas livrarias brasileiras, é uma pesquisa aprofundada sobre a carne que chega ao nosso prato, mais especificamente de onde ela vem e o que ocorre quando ainda não é carne, mas bicho. Para costurar todos esses dados, ele usa uma boa dose de histórias pessoais e questões filosóficas como “Por que amamos cachorros e não porcos?”.

Durante três anos, Jonathan - autor dos romances "Tudo se ilumina" e “Extremamente alto & incrivelmente perto”, sobre um menino que perde o pai no atentado do 11 de setembro de 2001) - procurou dados sobre a produção de bovinos, aves e peixes. O motivo era pessoal: queria decidir como alimentar seu primeiro filho. “Impulsos inesperados me surpreenderam quando descobri que seria pai. Comecei a arrumar a casa, a substituir lâmpadas queimadas, a limpar janelas e arquivar papéis.(...) e decidi escrever um livro sobre comer animais”, diz no livro. Vegetariano ocasional, Foer adotou de vez a dieta durante esse processo. 

O debate não é novo. O mérito de Foer em sua nova obra talvez seja apresentar uma grande quantidade de dados atuais e trazê-los para um campo - se não neutro - real. A começar por admitir que há “coisas em que acreditamos quando estamos deitados na cama, à noite, e escolhas que fazemos à mesa do café, na manhã seguinte”.

Foer conversou com Marie Claire por telefone de sua casa, no Brooklyn, em Nova York. Hoje pai de dois filhos (o mais velho tem cinco anos), ele aproveitou a experiência para aconselhar: “a mesa de jantar não é o melhor lugar para esse tipo de conversa”. Sobre o Brasil, disse: “A pior parte é que vocês estão perdendo biodiversidade e floresta tropical para criar animais que serão comidos em outros lugares. Se eu fosse um brasileiro, estaria p. da vida”.


MC - O que mais o assustou enquanto fazia sua pesquisa? 
JSF - Como a maioria das pessoas, eu achei que soubesse mais ou menos como as coisas se passavam e imaginava que a coisa era ruim, mas não conseguia perceber o quão ruim. Antes de fazer a pesquisa, não sabia que os pequenos produtores haviam se tornado tão raros, a ponto de 99% da comida que comemos vir da produção industrial. 

MC - Um mundo em que todos fossem vegetarianos seria melhor e equilibrado? 
JSF - Com certeza seria um mundo melhor, sob todas as perspectivas, mas isso não vai acontecer. Não há nenhuma chance disso acontecer, acho. Mas consigo imaginar um mundo em que a maioria das refeições seja vegetariana. Não a maioria das pessoas, mas das refeições. Esse é, para mim, o objetivo que deveríamos buscar: pensar menos na identidade de cada um e mais na realidade de cada prato.

MC - Sente saudade de algum prato com carne? 
JSF - Um pouco. Às vezes ando na rua e sinto cheiro de churrasco e penso “isso parece bom”. Também teria vontade de comer frango, se não soubesse que a indústria é tão nojenta. E sushi, eu adorava comer sushi. Mas, sabe, humanos são muito bons em dizer "não" para coisas que queremos por que nossa consciência assim nos diz. É como quando você vê alguém muito lindo na rua. Você não volta para casa e se espanca porque não pode ter um relacionamento com aquela pessoa. É só a vida.


MC - Como vê a relação entre comida e tradição? 
JSF – Quando falo disso, eu não minto a ninguém: pode ser complicado. Em algumas famílias a comida tem um componente religioso forte, em outras tem um componente de identidade nacional, e em outras é algo mais pessoal. O que podemos dizer é que, para todos, a comida é mais do que apenas calorias. Ela nos faz sentir mais do que satisfeitos, mexe com as nossas emoções. 

MC – O que diria a quem vê a dieta vegetariana como pobre em proteínas? 
JSF – Diria que isso não é verdade. Essa não é minha opinião, é fato científico. A American Dietary Association afirma que vegetarianos tendem a ter um balanço melhor de proteínas. Vegetarianos vivem mais e são mais saudáveis. Não acho que essa é uma razão para se tornar um, mas saúde não é um argumento para não se tornar.

MC – O que pensa de pessoas que comem carne? 
JSF - Eu não as julgo. E eu mesmo faço muitas coisas hipócritas na minha vida. As únicas pessoas que me incomodam são as que dizem não querer saber nada a respeito. Se alguém me diz "eu aprendi sobre o assunto, pensei nele e decidi que quero comer animais", isso é válido para mim.


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